segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

A poesia em 2012 - uma escolha

 
Dos livros que li, e feitas as derradeiras actualizações no último dia do ano, escolho estes como os melhores de 2012:
 
A) POESIAS REUNIDAS & ANTOLOGIAS DE AUTORES:
 
- Todas as palavras - Poesia reunida, Manuel António Pina, Assírio & Alvim. (Fundamental).
 
 
B) ANTOLOGIAS & PUBLICAÇÕES COLECTIVAS:
 
- Nós, os desconhecidos, Averno. (Excluindo o terceiro Resumo, porque apresenta uma selecção "dos melhores poemas" de 2011, este livro/álbum da Averno surge como uma das obras mais intensas do ano que agora termina. Ladrador, Averno e Deitar a língua de fora, Língua Morta, também merecem destaque como livros de grande qualidade).
 
 
C) LIVROS DE AUTOR:
 
- Bastardo, Diogo Vaz Pinto, Averno. (Aos "vinte e seis anos aqui ou agora" (p. 69) um segundo grande livro e a confirmação de um poeta que veio para desassossegar). E De nada, de Alberto Pimenta. Obra total.
 
 
D) OUTROS LIVROS DE POETAS:
 
- O concerto interior - evocações de um poeta, Assírio & Alvim. (Um livro simples e comovedor).
 
 
E) POESIA TRADUZIDA:
 
- A.A.V.V., Um país que sonha - cem anos de poesia colombiana; selecção e prólogo de Laurem Mendinueta; traduções de Nuno Júdice, Assírio & Alvim. (Umas boas dezenas de maravilhosas pepitas de ouro. O que se diz aos senhores? Queremos mais!).
 
E agora bom ano novo.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Ricardo Marques

Weather forecast



Acreditar na vida como
acreditamos no boletim
metereológico de todos os dias.
Apesar de todas as previsões,
profundamente científicas,
há sempre uma variável que não
controlamos. E por isso temos
esperança e desconfiamos. E tal
como toda a gente, aprendemos
que há que saber sair de casa
esquecendo deliberadamente o
guarda-chuva.




(Eudaimonia, ed. do autor, p. 13)

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

A poesia em 2012


Sem querer entrar em competição directa com Luís Miguel Queirós (e todos os outros leitores de poesia que têm a mania das listagens bibliográficas), apresento aqui um inventário dos livros publicados em 2012. É certo que o ano ainda não terminou e que, dado o volume editorial das últimas semanas, não se deve pôr de lado a possibilidade de surgirem mais novidades até ao dia 31 de dezembro. No entanto, avanço já com esta empreitada que ninguém me encomendou e que, logicamente, assume a natureza de um trabalho em processo: porque é bem possível que me esteja a esquecer de algum livro que não devia e de que me lembre entretanto; porque algum leitor eventual deste post poderá fazer algum reparo justificado; porque nenhuma lista, embora o deseje, consegue ser totalmente exaustiva. Porém, e apesar de todas estas objecções, tenho a esperança de que a maior parte das publicações e obras publicadas este ano, em Portugal, no campo da poesia, aqui esteja incluída. Os poucos (quero crer) livros não referidos ficam de fora porque, pura e simplesmente, não os conheço - ou porque calhou não chegarem ao meu conhecimento; ou porque não houve nada (neles ou por causa deles) que me acordasse para os mesmos; ou porque, afinal, eu estive distraído. É quase indubitável que o mal deve ser meu. Mas que posso fazer senão reconhecer tal fraqueza? Por último, quero deixar claro, em nome da verdade, que não li ainda todos os livros listados; indico esse facto à frente da obra referida através das inicias NL (ou seja: Não Li). Desses livros ainda não lidos uns quantos, poderia apostar, serão alguns dos melhores de 2012. Mas isso é muito provável que eu  descubra só em 2013. 


(NOTA: Esta lista está organizada por secções: "Poesia reunida", "Revistas", etc; para além da junção das obras de um mesmo autor - sempre que tal se justifique -, não existe outro critério que ordene as obras no interior de cada secção, nem sequer o critério alfabético; se houver razões para isso, serão feitas actualizações até ao final do ano).



A) POESIAS REUNIDAS & ANTOLOGIAS DE AUTORES

1) Manuel António Pina, Todas as palavras - Poesia reunida, Assírio & Alvim (do mesmo autor, e na mesma editora, saiu também O pássaro na cabeça e mais versos para crianças);
2) Vasco Graça Moura, Poesia Reunida (2 volumes), Quetzal;
3) Daniel Faria, Poesia, Assírio & Alvim;
4) Carlos Poças Falcão, Arte Nenhuma (Poesia - 1987/2012), Opera Omnia (NL);
5) Maria do Rosário Pedreira, Poesia Reunida, Quetzal.
6) Eugénio de Andrade, Assírio & Alvim (nova edição das obras do autor em volumes que agrupam dois livros em cada volume; foram editados os dois primeiros destes volumes).
7) Sophia de Mello Breyner, Os poemas sobre Pessoa, Caminho (NL);
8) Emanuel Jorge Botelho, Tudo isto para falar da noite; prefácio e selecção de Manuel de Freitas, Língua Morta.
9) Inês Lourenço, Câmara escura - uma antologia; selecção de Manuel de Freitas, Língua Morta;
10) José Jorge Letria, Poesia escolhida, organização e apresentação de Teresa Carvalho, Imprensa da Universidade de Coimbra (NL).


B) REVISTAS

1) Telhados de Vidro, Averno, Lisboa (2 números: 16 e 17);
2) Relâmpago, Lisboa, nº duplo (29 e 30)(NL);
3) Cão Celeste, Lisboa (2 números: 1 e 2);
4) Piolho, Edições Mortas, Porto (3 números: 8, 9 e 10) (NL);
5) Grisu, Guimarães (primeiro número).


C)  ANTOLOGIAS & PUBLICAÇÕES COLECTIVAS 

1) Algarve - 12 poetas a sul do século XXI, Livros Capital;
2) A vista desarmada, o tempo largo - Antologia. Poetas em homenagem a Vasco Graça Moura; Quetzal;
3) Meditações sobre o fim - os últimos poemas, Hariemuj;
4) Quinteto, Artefacto;
5) Este é o meu sangue, Tea For One;
6) De fio a pavio, Tea For One;
7) Deitar a língua de fora, Língua Morta;
8) Ladrador, Averno;
9) Hotel Oslo, ed. dos autores;
10) Nós, os desconhecidos, Averno;
11) Merry Little Christmas, Averno;
12) Resumo - a poesia em 2011, Fnac/Documenta;
13) Ruindade, 50 Kg..


D) LIVROS DE AUTOR

1) Nuno Costa Santos, às vezes é um insecto que faz disparar o alarme, Companhia das Ilhas;
2) Nuno Moura, Prémio nacional de poesia, MiaSoave,
3) Alberto Pimenta, Al face-book, 7 nós;
4) Jorge Roque, Canção da vida, Averno;
5) António Barahona, A doença - panaceia, Língua Morta;
6) António Barahona, Maçãs de espelho, Língua Morta (inclui a plaquete anterior);
7) Luís Filipe Parrado, Entre a carne e o osso, Língua Morta;
8) Fernando Pinto do Amaral, Paliativos, Língua Morta;
9) Inês Dias, In situ, Língua Morta;
10) Armando Silva Carvalho, De amore, Assírio & Alvim;
11) Jorge Sousa Braga, O novíssimo testamento e outros poemas, Assírio & Alvim;
12) José Tolentino Mendonça, Estação Central, Assírio & Alvim;
12) Marta Chaves, Dar-te amor e tirar-te a vida, Tea For One;
13) Manuel Paes, Em equilíbrio no tempo, Tea For One;
14) Manuel de Freitas, Cólofon, Fahrenheit 451;
15) Manuel de Freitas, 18 de abril, Língua Morta;
16) Rui Baião, Rude, Averno;
17) Diogo Vaz Pinto, Bastardo, Averno;
18) José Carlos Soares, Do lado de fora, 50 Kg;
19) Miguel Martins, a metafísica das t-shirts brancas, 50 Kg;
20) Miguel Martins, Cãibra, Ediresistência;
21) Henrique Manuel Bento Fialho, Rogil, volta d' mar;
22) Hélia Correia, A terceira miséria; Relógio D'Água;
23) Inês Fonseca Santos, As coisas, Abysmo;
24) João Paulo Cotrim, Má raça, Abysmo;
25) Nuno Júdice, Fórmulas de uma luz inexplicável, D. Quixote;
26) Nuno Dempster, Pedro e Inês: Dolce stil nuovo, Edições Sempre-em-Pé (NL);
27) Paulo da Costa Domingos, Versos abrasileirados, &etc;
28) Rosa Alice Branco, Concerto ao vivo, &etc (NL);
29) António Carlos Cortez, Linha de fogo, Licorne;
30) Raquel Nobre Guerra, Groto Sato, Mariposa Azual;
31) Vasco Gato, A fábrica, Língua Morta;
32) Rui Costa, Breve ensaio sobre a potência, Língua Morta
33) Amadeu Baptista, Açougue, &etc (NL);
34) Nuno Dempster, Elegias de Cronos, Artefacto (NL);
35) Isabel Carvalho, Resgate, Pé de Mosca (NL);
36) Susana Araújo, Dívida soberana, Mariposa Azual;
37) Miguel-Manso, Aqui podia viver gente, Primeiro Passo;
38) Jaime Rocha, Mulher inclinada com cântaro, volta d' mar (NL);
39) Alberto Pimenta, De nada, Boca.


E) EDIÇÕES DE AUTOR

1) Miguel-Manso, Ensinar o caminho ao diabo;
2) Miguel-Manso, Um lugar a menos;
3) Manuel Filipe, Via de Curetes;
4) manuel a. domingos, Penumbra
5) Ricardo Marques, Eudaimonia;
6) Paulo Tavares, Capitais.


F) ENTRE A POESIA E OUTRA COISA

1) Jorge Roque, O martelo, ed. do autor;
2) Bénédicte Houart, Há dias, &etc;
3) Rui Pires Cabral, Biblioteca dos rapazes, Pianola;
4) Miguel Martins, fôlego sem folga, Língua Morta;
5) Miguel Martins, Um homem sozinho, Língua Morta.


ANEXO1: OUTROS LIVROS DE POETAS QUE NÃO SÃO DE POESIA (OU, SE CALHAR, ATÉ SÃO):

1) Al Berto, Diários, Assírio & Alvim;
2) Manuel António Pina, Aniki-Bóbó, Assírio & Alvim (NL);
3) Vitor Silva Tavares, Para já Para já, Dois dias edições;
4) António Osório, O concerto interior - evocações de um poeta, Assírio & Alvim;
5) Manuel de Freitas, Pedacinhos de ossos, Averno;
6) João Miguel Fernades Jorge (e Pedro Calapez), O próximo outono, Relógio D'Água (NL).


G) TRÊS POETAS BRASILEIROS

1) Lêdo Ivo, Antologia poética, Afrontamento (org. Albano Martins);
2) Fabio Weintraub, Baque, Língua Morta;
3) Pádua Fernandes, Cálcio, Averno (NL).


H) POESIA TRADUZIDA

1) A.A.V.V., Um país que sonha - cem anos de poesia colombiana; selecção e prólogo de Lauren Mendinueta; traduções de Nuno Júdice, Assírio & Alvim;
2) Tomas Tranströmer, 50 poemas; trad. de Alexandre Pastor, Relógio D'Água;
3) Tomas Tranströmer, As minhas lembranças observam-me seguido de Primeiros poemas; trad. de Ana Diniz e Alexandre Pastor, Sextante;
4) A.A.V.V., Três momentos da poesia europeia (De Safo e Píndaro a Ungaretti e Salinas); selecção, tradução e notas de Albano Martins, Afrontamento (NL);
5) A.A.V.V., O tigre na rua e outros poemas; traduções de Miguel Gouveia, Helder Guégués e Nina e Filipe Guerra, Bruaá;
6) Jean Cocteau, Tanta coisa por dizer; selecção e trad. de Inês Dias, Língua Morta (NL);
7) Antonio Hernández, O mundo inteiro; trad. de Inês Dias Língua Morta;
8) Antonia Pozzi, Morte de uma estação; trad. de Inês Dias, Averno;
9) Amy Lowell, Não eram rosas; selecção e trad. de Ricardo Marques, Língua Morta;
10) John Mateer, Este livro escuro; trad. de Inês Dias, Averno;
11) Pablo Neruda, Vinte poemas de amor e uma canção desesperada; trad. José Miguel Silva, Relógio D'Água (NL).


I) ALGUMAS OBSERVAÇÕES

1) Acentua-se a tendência, já enunciada pelos mais atentos, para o quase desaparecimento da poesia no plano corrente de edição de editoriais de certa dimensão e com alguma tradição na publicação de poesia (Relógio D'Água, Caminho, D. Quixote...) ou para uma redução substancial do número de obras publicadas  por uma editora de referência como a Assírio & Alvim. A Cotovia, editora de média dimensão que publicou obras de grande relevo, tanto de poetas nacionais como estrangeiros, pelo que constatei, não publicou qualquer livro de poesia este ano.

2) Confirma-se, também, a tendência para a poesia ser publicada por editoras de pequena ou pequeníssima dimensão, com tiragens reduzidas; enquanto objectos - factor que interessa a qualquer amante de livros - estes costumam variar, material e tipograficamente, entre um despojamento quase total e uma certa vocação para a volúpia tipográfica e sensorial em que todos os pormenores (papel, gramagens, texturas, cheiros, imagens/ilustrações...) contam. De salientar, igualmente, o aparecimento de novas editoras como Pianola, Fahrenheit 451, Ediresistência, Hariemuj...

3) Este ano verificou-se, também, o aparecimento de um número assinalável de livros/publicações colectivas (antologias ou volumes organizados a partir de núcleos temáticos mais ou menos explícitos e/ou explicitados). Mas dificilmente se poderá constatar muito mais do que isto, dada a inexistência de grupos ou tendências mais ou menos definidas. Deve ser registado o facto de ter sido editado o terceiro Resumo, o volume antológico  com os "melhores poemas publicados em Portugal ao longo do ano de 2011", segundo Armando Silva Carvalho, José Alberto Oliveira, Luís Miguel Queirós e Manuel de Freitas.

4) Confirma-se a tendência para a rarefacção das edições de autor (mas é difícil saber exactamente o que vai sendo publicado).

5) Registe-se, sem alegria, o reduzidíssmo número de traduções publicadas. Uma pobreza (quase) total. E dos onze livros que destaco (houve mais?), seis foram editados por três pequenas editoras. Comentários para quê? Só se for para saudar o bom gosto e a determinação heroica, quase quixotesca, dos tradutores e editores da Língua Morta, da Averno e da Bruaá. Dito isto, quero afirmar que a antologia de poesia colombiana, organizada por Lauren Mendinueta e traduzida por Nuno Júdice é, apesar do número reduzido de poemas por autor, uma obra fascinante. E há tanto mundo por descobrir!

(Rui Costa. Manuel António Pina. Papiniano Carlos: talvez a morte não tenha, ainda, a última palavra).

(Post scriptum - Façamos alguma contas, retiremos algumas ilações. Das editoras de maior dimensão, só a Assírio & Alvim parece apostada em continuar a publicar poesia com regularidade (8 livros); a Quetzal publicou apenas 4 livros de poesia, todos de certa envergadura (obras poéticas reunidas de Vasco Graça Moura - bem como uma antologia de homenagem a este autor - e de Maria do Rosário Pedreira); a Relógio D'Água publicou somente 4 livros (e apenas 1 de um autor português, Hélia Correia; o livro de João Miguel Fernandes Jorge apresenta-se como um diário...); a Caminho e a D. Quixote publicaram 1 livro de poesia cada. Nenhuma destas editoras arriscou na publicação de originais de novos autores. A Afrontamento fez um pouco mais e editou 2 livros (duas antologias organizadas por Albano Martins). Claramente, é noutros lados que as coisas estão a acontecer: são a Averno (12 livros) e a Língua Morta (17 livros) que surgem como grandes forças motrizes da edição de poesia em Portugal. Se a Averno já anda nestas lides há uma década, facto que deve ser devidamente enaltecido, espantoso é o salto, em quantidade e qualidade, da Língua Morta. De qualquer maneira, estas pequenas editoras não poderão substituir as de maior dimensão, pois só estas possuem as condições necessárias para a edição de obras mais ambiciosas (antologias, traduções regulares de autores vivos, reuniões de obras poéticas), como se constata, aliás, pelo que aconteceu este ano. Dois exemplos: só editoras como a Assírio ou a Relógio D'Água poderiam editar livros como as antologias de poesia colombiana ou a do Nobelizado Tranströmer. Porém, os sinais mais recentes não indiciam mudanças de rumo nas linhas de trabalho destas editoras. E a crise económica não justifica tudo).