segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

A poesia em 2012


Sem querer entrar em competição directa com Luís Miguel Queirós (e todos os outros leitores de poesia que têm a mania das listagens bibliográficas), apresento aqui um inventário dos livros publicados em 2012. É certo que o ano ainda não terminou e que, dado o volume editorial das últimas semanas, não se deve pôr de lado a possibilidade de surgirem mais novidades até ao dia 31 de dezembro. No entanto, avanço já com esta empreitada que ninguém me encomendou e que, logicamente, assume a natureza de um trabalho em processo: porque é bem possível que me esteja a esquecer de algum livro que não devia e de que me lembre entretanto; porque algum leitor eventual deste post poderá fazer algum reparo justificado; porque nenhuma lista, embora o deseje, consegue ser totalmente exaustiva. Porém, e apesar de todas estas objecções, tenho a esperança de que a maior parte das publicações e obras publicadas este ano, em Portugal, no campo da poesia, aqui esteja incluída. Os poucos (quero crer) livros não referidos ficam de fora porque, pura e simplesmente, não os conheço - ou porque calhou não chegarem ao meu conhecimento; ou porque não houve nada (neles ou por causa deles) que me acordasse para os mesmos; ou porque, afinal, eu estive distraído. É quase indubitável que o mal deve ser meu. Mas que posso fazer senão reconhecer tal fraqueza? Por último, quero deixar claro, em nome da verdade, que não li ainda todos os livros listados; indico esse facto à frente da obra referida através das inicias NL (ou seja: Não Li). Desses livros ainda não lidos uns quantos, poderia apostar, serão alguns dos melhores de 2012. Mas isso é muito provável que eu  descubra só em 2013. 


(NOTA: Esta lista está organizada por secções: "Poesia reunida", "Revistas", etc; para além da junção das obras de um mesmo autor - sempre que tal se justifique -, não existe outro critério que ordene as obras no interior de cada secção, nem sequer o critério alfabético; se houver razões para isso, serão feitas actualizações até ao final do ano).



A) POESIAS REUNIDAS & ANTOLOGIAS DE AUTORES

1) Manuel António Pina, Todas as palavras - Poesia reunida, Assírio & Alvim (do mesmo autor, e na mesma editora, saiu também O pássaro na cabeça e mais versos para crianças);
2) Vasco Graça Moura, Poesia Reunida (2 volumes), Quetzal;
3) Daniel Faria, Poesia, Assírio & Alvim;
4) Carlos Poças Falcão, Arte Nenhuma (Poesia - 1987/2012), Opera Omnia (NL);
5) Maria do Rosário Pedreira, Poesia Reunida, Quetzal.
6) Eugénio de Andrade, Assírio & Alvim (nova edição das obras do autor em volumes que agrupam dois livros em cada volume; foram editados os dois primeiros destes volumes).
7) Sophia de Mello Breyner, Os poemas sobre Pessoa, Caminho (NL);
8) Emanuel Jorge Botelho, Tudo isto para falar da noite; prefácio e selecção de Manuel de Freitas, Língua Morta.
9) Inês Lourenço, Câmara escura - uma antologia; selecção de Manuel de Freitas, Língua Morta;
10) José Jorge Letria, Poesia escolhida, organização e apresentação de Teresa Carvalho, Imprensa da Universidade de Coimbra (NL).


B) REVISTAS

1) Telhados de Vidro, Averno, Lisboa (2 números: 16 e 17);
2) Relâmpago, Lisboa, nº duplo (29 e 30)(NL);
3) Cão Celeste, Lisboa (2 números: 1 e 2);
4) Piolho, Edições Mortas, Porto (3 números: 8, 9 e 10) (NL);
5) Grisu, Guimarães (primeiro número).


C)  ANTOLOGIAS & PUBLICAÇÕES COLECTIVAS 

1) Algarve - 12 poetas a sul do século XXI, Livros Capital;
2) A vista desarmada, o tempo largo - Antologia. Poetas em homenagem a Vasco Graça Moura; Quetzal;
3) Meditações sobre o fim - os últimos poemas, Hariemuj;
4) Quinteto, Artefacto;
5) Este é o meu sangue, Tea For One;
6) De fio a pavio, Tea For One;
7) Deitar a língua de fora, Língua Morta;
8) Ladrador, Averno;
9) Hotel Oslo, ed. dos autores;
10) Nós, os desconhecidos, Averno;
11) Merry Little Christmas, Averno;
12) Resumo - a poesia em 2011, Fnac/Documenta;
13) Ruindade, 50 Kg..


D) LIVROS DE AUTOR

1) Nuno Costa Santos, às vezes é um insecto que faz disparar o alarme, Companhia das Ilhas;
2) Nuno Moura, Prémio nacional de poesia, MiaSoave,
3) Alberto Pimenta, Al face-book, 7 nós;
4) Jorge Roque, Canção da vida, Averno;
5) António Barahona, A doença - panaceia, Língua Morta;
6) António Barahona, Maçãs de espelho, Língua Morta (inclui a plaquete anterior);
7) Luís Filipe Parrado, Entre a carne e o osso, Língua Morta;
8) Fernando Pinto do Amaral, Paliativos, Língua Morta;
9) Inês Dias, In situ, Língua Morta;
10) Armando Silva Carvalho, De amore, Assírio & Alvim;
11) Jorge Sousa Braga, O novíssimo testamento e outros poemas, Assírio & Alvim;
12) José Tolentino Mendonça, Estação Central, Assírio & Alvim;
12) Marta Chaves, Dar-te amor e tirar-te a vida, Tea For One;
13) Manuel Paes, Em equilíbrio no tempo, Tea For One;
14) Manuel de Freitas, Cólofon, Fahrenheit 451;
15) Manuel de Freitas, 18 de abril, Língua Morta;
16) Rui Baião, Rude, Averno;
17) Diogo Vaz Pinto, Bastardo, Averno;
18) José Carlos Soares, Do lado de fora, 50 Kg;
19) Miguel Martins, a metafísica das t-shirts brancas, 50 Kg;
20) Miguel Martins, Cãibra, Ediresistência;
21) Henrique Manuel Bento Fialho, Rogil, volta d' mar;
22) Hélia Correia, A terceira miséria; Relógio D'Água;
23) Inês Fonseca Santos, As coisas, Abysmo;
24) João Paulo Cotrim, Má raça, Abysmo;
25) Nuno Júdice, Fórmulas de uma luz inexplicável, D. Quixote;
26) Nuno Dempster, Pedro e Inês: Dolce stil nuovo, Edições Sempre-em-Pé (NL);
27) Paulo da Costa Domingos, Versos abrasileirados, &etc;
28) Rosa Alice Branco, Concerto ao vivo, &etc (NL);
29) António Carlos Cortez, Linha de fogo, Licorne;
30) Raquel Nobre Guerra, Groto Sato, Mariposa Azual;
31) Vasco Gato, A fábrica, Língua Morta;
32) Rui Costa, Breve ensaio sobre a potência, Língua Morta
33) Amadeu Baptista, Açougue, &etc (NL);
34) Nuno Dempster, Elegias de Cronos, Artefacto (NL);
35) Isabel Carvalho, Resgate, Pé de Mosca (NL);
36) Susana Araújo, Dívida soberana, Mariposa Azual;
37) Miguel-Manso, Aqui podia viver gente, Primeiro Passo;
38) Jaime Rocha, Mulher inclinada com cântaro, volta d' mar (NL);
39) Alberto Pimenta, De nada, Boca.


E) EDIÇÕES DE AUTOR

1) Miguel-Manso, Ensinar o caminho ao diabo;
2) Miguel-Manso, Um lugar a menos;
3) Manuel Filipe, Via de Curetes;
4) manuel a. domingos, Penumbra
5) Ricardo Marques, Eudaimonia;
6) Paulo Tavares, Capitais.


F) ENTRE A POESIA E OUTRA COISA

1) Jorge Roque, O martelo, ed. do autor;
2) Bénédicte Houart, Há dias, &etc;
3) Rui Pires Cabral, Biblioteca dos rapazes, Pianola;
4) Miguel Martins, fôlego sem folga, Língua Morta;
5) Miguel Martins, Um homem sozinho, Língua Morta.


ANEXO1: OUTROS LIVROS DE POETAS QUE NÃO SÃO DE POESIA (OU, SE CALHAR, ATÉ SÃO):

1) Al Berto, Diários, Assírio & Alvim;
2) Manuel António Pina, Aniki-Bóbó, Assírio & Alvim (NL);
3) Vitor Silva Tavares, Para já Para já, Dois dias edições;
4) António Osório, O concerto interior - evocações de um poeta, Assírio & Alvim;
5) Manuel de Freitas, Pedacinhos de ossos, Averno;
6) João Miguel Fernades Jorge (e Pedro Calapez), O próximo outono, Relógio D'Água (NL).


G) TRÊS POETAS BRASILEIROS

1) Lêdo Ivo, Antologia poética, Afrontamento (org. Albano Martins);
2) Fabio Weintraub, Baque, Língua Morta;
3) Pádua Fernandes, Cálcio, Averno (NL).


H) POESIA TRADUZIDA

1) A.A.V.V., Um país que sonha - cem anos de poesia colombiana; selecção e prólogo de Lauren Mendinueta; traduções de Nuno Júdice, Assírio & Alvim;
2) Tomas Tranströmer, 50 poemas; trad. de Alexandre Pastor, Relógio D'Água;
3) Tomas Tranströmer, As minhas lembranças observam-me seguido de Primeiros poemas; trad. de Ana Diniz e Alexandre Pastor, Sextante;
4) A.A.V.V., Três momentos da poesia europeia (De Safo e Píndaro a Ungaretti e Salinas); selecção, tradução e notas de Albano Martins, Afrontamento (NL);
5) A.A.V.V., O tigre na rua e outros poemas; traduções de Miguel Gouveia, Helder Guégués e Nina e Filipe Guerra, Bruaá;
6) Jean Cocteau, Tanta coisa por dizer; selecção e trad. de Inês Dias, Língua Morta (NL);
7) Antonio Hernández, O mundo inteiro; trad. de Inês Dias Língua Morta;
8) Antonia Pozzi, Morte de uma estação; trad. de Inês Dias, Averno;
9) Amy Lowell, Não eram rosas; selecção e trad. de Ricardo Marques, Língua Morta;
10) John Mateer, Este livro escuro; trad. de Inês Dias, Averno;
11) Pablo Neruda, Vinte poemas de amor e uma canção desesperada; trad. José Miguel Silva, Relógio D'Água (NL).


I) ALGUMAS OBSERVAÇÕES

1) Acentua-se a tendência, já enunciada pelos mais atentos, para o quase desaparecimento da poesia no plano corrente de edição de editoriais de certa dimensão e com alguma tradição na publicação de poesia (Relógio D'Água, Caminho, D. Quixote...) ou para uma redução substancial do número de obras publicadas  por uma editora de referência como a Assírio & Alvim. A Cotovia, editora de média dimensão que publicou obras de grande relevo, tanto de poetas nacionais como estrangeiros, pelo que constatei, não publicou qualquer livro de poesia este ano.

2) Confirma-se, também, a tendência para a poesia ser publicada por editoras de pequena ou pequeníssima dimensão, com tiragens reduzidas; enquanto objectos - factor que interessa a qualquer amante de livros - estes costumam variar, material e tipograficamente, entre um despojamento quase total e uma certa vocação para a volúpia tipográfica e sensorial em que todos os pormenores (papel, gramagens, texturas, cheiros, imagens/ilustrações...) contam. De salientar, igualmente, o aparecimento de novas editoras como Pianola, Fahrenheit 451, Ediresistência, Hariemuj...

3) Este ano verificou-se, também, o aparecimento de um número assinalável de livros/publicações colectivas (antologias ou volumes organizados a partir de núcleos temáticos mais ou menos explícitos e/ou explicitados). Mas dificilmente se poderá constatar muito mais do que isto, dada a inexistência de grupos ou tendências mais ou menos definidas. Deve ser registado o facto de ter sido editado o terceiro Resumo, o volume antológico  com os "melhores poemas publicados em Portugal ao longo do ano de 2011", segundo Armando Silva Carvalho, José Alberto Oliveira, Luís Miguel Queirós e Manuel de Freitas.

4) Confirma-se a tendência para a rarefacção das edições de autor (mas é difícil saber exactamente o que vai sendo publicado).

5) Registe-se, sem alegria, o reduzidíssmo número de traduções publicadas. Uma pobreza (quase) total. E dos onze livros que destaco (houve mais?), seis foram editados por três pequenas editoras. Comentários para quê? Só se for para saudar o bom gosto e a determinação heroica, quase quixotesca, dos tradutores e editores da Língua Morta, da Averno e da Bruaá. Dito isto, quero afirmar que a antologia de poesia colombiana, organizada por Lauren Mendinueta e traduzida por Nuno Júdice é, apesar do número reduzido de poemas por autor, uma obra fascinante. E há tanto mundo por descobrir!

(Rui Costa. Manuel António Pina. Papiniano Carlos: talvez a morte não tenha, ainda, a última palavra).

(Post scriptum - Façamos alguma contas, retiremos algumas ilações. Das editoras de maior dimensão, só a Assírio & Alvim parece apostada em continuar a publicar poesia com regularidade (8 livros); a Quetzal publicou apenas 4 livros de poesia, todos de certa envergadura (obras poéticas reunidas de Vasco Graça Moura - bem como uma antologia de homenagem a este autor - e de Maria do Rosário Pedreira); a Relógio D'Água publicou somente 4 livros (e apenas 1 de um autor português, Hélia Correia; o livro de João Miguel Fernandes Jorge apresenta-se como um diário...); a Caminho e a D. Quixote publicaram 1 livro de poesia cada. Nenhuma destas editoras arriscou na publicação de originais de novos autores. A Afrontamento fez um pouco mais e editou 2 livros (duas antologias organizadas por Albano Martins). Claramente, é noutros lados que as coisas estão a acontecer: são a Averno (12 livros) e a Língua Morta (17 livros) que surgem como grandes forças motrizes da edição de poesia em Portugal. Se a Averno já anda nestas lides há uma década, facto que deve ser devidamente enaltecido, espantoso é o salto, em quantidade e qualidade, da Língua Morta. De qualquer maneira, estas pequenas editoras não poderão substituir as de maior dimensão, pois só estas possuem as condições necessárias para a edição de obras mais ambiciosas (antologias, traduções regulares de autores vivos, reuniões de obras poéticas), como se constata, aliás, pelo que aconteceu este ano. Dois exemplos: só editoras como a Assírio ou a Relógio D'Água poderiam editar livros como as antologias de poesia colombiana ou a do Nobelizado Tranströmer. Porém, os sinais mais recentes não indiciam mudanças de rumo nas linhas de trabalho destas editoras. E a crise económica não justifica tudo).

Sem comentários:

Enviar um comentário