sexta-feira, 6 de julho de 2012

It's the end of poetry as we know it (and I feel fine)

Num artigo publicado na edição de hoje do Ípsilon (com o título modesto de "Balanço e contas da literatura portuguesa"), a propósito do livro O romance português contemporâneo, 1950-2010, de Miguel Real, João Bonifácio compara a suposta força dos novos romancistas portugueses com o suposto enfraquecimento da "poesia e [d]o conto" que, no contexto nacional, "parecem, enquanto géneros, ter quase soçobraçado, com excepções". Não se diz mais nada sobre o assunto. Faz-se um juízo de valor desta envergadura sobre dois "géneros" literários e os autores que os praticam e avança-se como se nada fosse. Isto é o quê? Seriedade crítica?  Provocação? Simples ignorância? Quais são os sinais desse quase generalizado soçobramento? Que razões encontra o autor para fazer essa afirmação (que, sem explicação nem enquadramento, é, no mínimo, gratuita)? E quais são, afinal, as excepções? Na verdade, no caso da poesia, estas palavras parecem ecoar, em tom menos (!) catastrófico (há, pelo menos, excepções, embora dê muito trabalho nomeá-las...), as de Nuno Júdice reveladas na entrevista que o autor de A noção de poema deu à Ler de junho passado: "a poesia está a atravessar uma crise. Não há nomes que se destaquem nem se encontra uma linguagem de rutura ou de transformação relativamente ao que é a nossa tradição que vem do século XX". Crise? Rutura? Mas estas noções são inovadoras onde e para quem? Felizmente, a realidade é muito mais viva, rica e bem humorada do que alguns parecem pensar. Deixo-vos, a terminar, a "Parábola da culinária mediterrânea", de David Teles Pereira:

A poesia é como as ovas de ouriço-do-mar
sabe melhor com um pouco de acidez

Bom proveito para quem a saiba aproveitar.